Ele tem 53 anos e já criou 32 empresas
Empreendedor serial, André Nudelman cria companhias como filosofia de vida;
negócios vão de granjas a rede de escolas bilíngues
Para alguns brasileiros, abrir um pequeno empreendimento, como um armazém de
secos e molhados ou uma empresa de confecção, é um grito de liberdade – e esse
grupo, o dos empreendedores, é
cada
vez mais numeroso no País. Para uma outra parcela da população,
acometida pelo temor com o fisco, com a burocracia ou a simples falta de
vocação, abrir uma empresa é uma alternativa descartada. E, para poucos, raros,
o empreendedorismo é não apenas um ganha-pão – é uma filosofia de vida.
André Nudelman, o homem de 32 empresas: "mais importante que saber abrir um
negócio é saber a hora de fechar"
“Patológico” é, com bom humor, como o empresário André Nudelman define seu
apetite por criar novos empreendimentos. Aos 53 anos, Nudelman já tem em sua
conta a abertura de nada menos que 32 empresas, em frentes tão díspares quanto
um restaurante de comida típica nordestina ou uma rede de lojas de brinquedos.
Mesmo para empreendedores tarimbados, é um ritmo estonteante: a média do
empresário é de quase uma empresa aberta por ano ao longo de sua vida
adulta.
Nudelman entrou no mundo dos negócios por força de circunstâncias pouco
felizes. Logo depois de completar 20 anos, quando cursava Direito na
Universidade de São Paulo (USP), o empresário tomou as rédeas da incubadora de
aves comandada por seu pai, que tinha acabado de falecer.
A Granja Colorado, como se chamava a companhia, cresceu, mas não estava imune
ao conturbado cenário econômico do Brasil de meados da década de 1980. “A
empresa estava alavancada com recursos do crédito rural, mas o governo suspendeu
as operações”, conta o empresário. Com a incubadora endividada, Nudelman teve
que vendê-la. Ele tinha 25 anos.
Tempos depois, o empresário mudou-se para Maceió – e foi na capital alagoana
um dos momentos mais prolíficos de sua vida de neopatrão. Em um intervalo de
cinco anos, ele teve na cidade um restaurante italiano, um de comida típica
local, duas pizzarias, uma boate e uma distribuidora de cigarros. Alguns dos
negócios foram tocados de forma simultânea.
"Serial entrepreneur"
“Se existe o ‘serial killer’, existe o ‘serial entrepreneur’. Sou o
empreendedor em série”, diz Nudelman. E, na explanação sobre um dos talentos
mais evidentes de sua vida profissional, o empresário toca no ponto que, para
gente menos experimentada na vida corporativa, é um calcanhar de Aquiles. “A
mesma facilidade que tive para abrir uma empresa eu sempre tive para fechar”,
diz. “As pessoas são muito apegadas (ao negócio). Talvez mais importante que
abrir uma empresa é saber a hora de fechar”.
Cerrar as portas de um empreendimento continua a ser o destino indesejado, e
não a opção, da maioria dos novos empresários brasileiros. Segundo
levantamento
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em São
Paulo, 58% das empresas não passaram do quinto ano de vida – os dados foram
apresentados em 2010. O dado não deixa de ser um alento – dez anos antes,
afinal, a taxa de mortalidade nos mesmos cinco anos era de 71% –, mas o número
ainda é considerado alto pelo Sebrae.
Empreendedores seriais permanecerão como ponto fora da curva nas
estatísticas. Mas, mesmo com a nuvem negra da mortalidade das empresas, que
permanece espessa, o empreendedorismo avança no País. De acordo o levantamento
do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o brasileiro é o povo mais
empreendedor entre todos os países do G20. O estudo é realizado todo ano e sua
última versão, que mapeou dados de 60 países, foi apresentada em abril.
Segundo o GEM, 17,5% da população adulta do País é formada por empreendedores
em estágio inicial, um universo de 22 milhões de pessoas – número equivalente ao
da população da Austrália. Quase 60% dos novos empresários brasileiros abriu seu
negócio com menos de R$ 10 mil.
Foto: Divulgação
Atividade em uma das unidades da Maple Bear, rede de escolas bilíngues da
qual André Nudelman é sócio
No papel de empregado
André Nudelman, que já engrossava as estatísticas brasileiras sobre criação
de empresas antes mesmo do boom recente, achou que seria uma boa ideia testar
seu tino para negócios em terra estrangeira – e, depois da temporada em Maceió,
muda-se para Miami, nos Estados Unidos. Mas o ímpeto durou pouco. “Percebi que,
lá, eu seria, para os americanos, só mais um
cucaracha. Além disso, o
investimento teria que ser bem maior por causa do trabalho pessoal: eu não
conhecia os fornecedores, a lei e os consumidores”. A estada em Miami
estendeu-se por seis meses.
No retorno, ele teve um estalo. A mortalidade de empresas era (na época) de
80% – e , no universo de 20% de empreendimentos que prosperavam, 70% eram
criados por ex-executivos de grandes companhias. Era hora de aprender com quem
sabia fazer um novo negócio passar a rebentação dos primeiros anos de vida.
Nudelman passou três anos na American Express, primeiro na área de vendas e,
depois, como gerente mais graduado, na área de marketing, mesmo sem ter formação
na área. “O fato de não ser formado é uma vantagem tremenda”, diz. “Você pode
trabalhar com qualquer coisa”.
A afirmação está relacionada à liberdade de escolha, ressalva o empresário, e
não a um pretenso desprezo pela educação formal. Durante os anos de
empreendedorismo, Nudelman fez MBA e incontáveis cursos gestão e aperfeiçoamento
de suas habilidades.
Brinquedo, ruim; escola, bom
Vieram outras iniciativas nos anos subsequentes: uma rede de franquias de
venda e locação de jogos para videogame, que chegou a ter 32 unidades no País,
sociedade em uma rede de lojas de brinquedos, a desenvolvedora de um software de
compras usado por lojistas de roupas, um fundo de investimentos, entre outros.
(Sobre a venda de brinquedos, ele faz a anotação: “parecia bom, mas foi o pior
negócio. Todo o estoque era consignado, mas 75% das vendas se concentram em três
semanas do ano”).
Foto: Divulgação
Unidade da Maple Bear, rede de escolas bilíngues da qual André Nudelman é
sócio
Nudelman decidiu procurar melhor qualidade de vida e, há oito anos, mudou-se
para o Canadá. Há sete, em uma joint venture com o grupo canadense Global
Schools (cada um tem 50% do negócio), ele inaugurou as primeiras escolas da
Maple Bear no Brasil. Entre unidades já abertas ou em fase de certificação para
início de operações, a rede de escolas bilíngues já tem 41 endereços no
País.
O empresário é dono de 50% da joint venture, mas é prático ao admitir suas
limitações. “Procuro não me envolver muito em decisões administrativas”, afirma.
“Sou um gerente incapaz. Não perco meu tempo fazendo o que não sei”.
Em sua 32ª iniciativa empreendedora, Nudelman diz que se sente emocionado nas
visitas às escolas, feitas em suas quatro viagens anuais ao Brasil (“a educação
transforma o País, e formar a elite é tão importante quanto formar o restante da
população”). Mas, mesmo realizado, ele se mantém fiel às lições de sua vida de
criador de empresas: as portas para eventuais investidores em seu negócio nunca
estarão totalmente fechadas.